Tarot: uma caminhada
- 28 de nov.
- 9 min de leitura
Como o tarot entrou em minha vida e me acompanha em toda a minha caminhada

Por Maria Ábramo Editado e publicado por José Octávio Abramo
Eu nasci em 1960. O Brasil era um emaranhado de esperança e poeira, de Bossa Nova nas vitrolas e carros Fusca nas ruas. Nesse país a espiritualidade se vestia de igrejas e terreiros, a palavra Tarot era um sussurro, um segredo que jazia no fundo de livrarias esotéricas invisíveis.
Minha mãe, prática e católica, tinha o dom de tornar o ordinário em extraordinário, mas o que eu pedia estava além do seu alcance e, talvez, da sua compreensão.
Eu não queria figurinhas, nem bonecas, nem os joguinhos da época. Eu queria o baralho.
Não o baralho comum, de ás e rei, que servia para o truco dos tios ou a paciência da vovó. Eu queria o baralho que eu desenhava na minha imaginação: o do Velhinho (que andava curvado com sua lanterna, me parecendo o sábio mais misterioso do mundo); o da Rodinha (com bichos estranhos girando, prometendo que tudo sempre mudaria); e, acima de tudo, o Mágico, com a mão erguida para o céu e a outra para a terra, o verdadeiro dono dos segredos.
Eu pedia com a insistência doce da infância: "Mãe, me traz o baralho cheio de cartas, o do Velhinho!"
E ela, com a melhor das intenções e a certeza de ter acertado, voltava das compras com uma caixa colorida e familiar.
"Olha que lindo! O Jogo do Mico! Para você e suas primas jogarem!", dizia, sorrindo.
Ou então, vinha o baralho comum, da Copag, com seus reis, damas e valetes previsíveis. Olhando para aqueles desenhos, meu coração de criança apertava, em um misto de decepção e gratidão. O Mico e seus bichos engraçados eram só um jogo. O baralho comum era só um jogo.
O meu baralho, aquele do Mágico, aquele que continha o universo inteiro, continuava guardado no lugar mais seguro: na minha cabeça.
Para a menina com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e outras graves disfunções cognitivas, a vida escolar linear e a disciplina rígida eram um obstáculo gigante. Mas em minha mente, mundos inteiros se abriam; eu já nasci com aquela tal "telinha mental" incrivelmente vívida. Era ali, na ausência física dos baralhos, que o Tarot se manifestava com o Velhinho, o Mágico e a Rodinha, tornando-se a promessa de um tesouro, que eu ainda encontraria.
Enquanto o aprendizado convencional falhava em cativar; a complexidade visual e percepção interior ofereciam uma lógica paralela, baseada em imagens, histórias e intuição. Um código secreto que, mesmo imaginado, fazia perfeito sentido para uma mente que processava o mundo de forma não convencional.
A verdade é que, no Brasil dos anos 60, encontrar um Tarot era como procurar uma agulha mágica num palheiro. Mas essa repetição — de pedir o mistério e ganhar o mundano — apenas cimentou uma certeza: o que é fácil de achar não é o que vale a pena.
A Jornada Para Entender o Tarot de Maria Ábramo não começou com a carta certa.
Começou com a ausência do conhecimento certo.
Aquele anseio infantil, aquela visão clara do Velhinho e do Mágico, foi a primeira e mais poderosa lição: a busca pelo invisível, o que definiu todo caminho do que eu construí ao longo da vida e se materializou na Mab.
O encontro com o inimaginável
A virada aconteceu em Londrina, no Paraná, entre os dezenove e vinte anos. A vida, que parecia destinada a uma elegância coreografada, guardava um drama e um palco diferente para mim. Foi ali que o universo finalmente respondeu àquele desejo da criança dos anos 60. Talvez como um presente ao diagnóstico de um joelho estourado que já não poderia seguir mais com a dança e o ballet clássico.
O nome da mensageira era Shanti, uma amiga de alma, argentina, com um sotaque que trazia o mistério do sul. Certa tarde, com a casualidade de quem oferece um café, ela me perguntou: "Eu quero abrir um Tarot. Você quer ver?"
E eu: “Tarot”?? Muitas interrogações e aquela voz la dentro dizendo iiiii...será?
Nesse momento a materialidade era tudo. Eu já escondia das pessoas as visões e os alertas no meu ouvido esquerdo. Pois para a internação só faltava um deslize a mais. Resolvi que seria a louca mansa e aprendi a nada temer, a ver mundos fantásticos, somente eu e a tal da “minha loucurinha”.
A pergunta era simples, mas o impacto foi sísmico. Naquele momento, a telinha mental que projetava o Velhinho e o Mágico desde a infância foi substituída pela visão física do baralho de Tarot. Quando ela espalhou as cartas sobre a mesa, aconteceu o impensável. Eu não estava apenas vendo, eu estava reconhecendo. Não houve surpresa, houve uma profunda e íntima familiaridade.
Em vez de receber a leitura, fui eu quem começou a falar. As cartas me eram tão íntimas, tão óbvias, que a narrativa fluiu de mim, descrevendo os arcanos, as conexões, o momento de Shanti. O leitor virou o lido. A pergunta ecoava: De onde vinha toda aquela intimidade? Lembro que Shanti chorou muito com a minha leitura, pois descobriu um problema que a afligia desde a infância. Ela recolheu as cartas e me disse: “Você podia ter falado que era essa grande taróloga!”. E eu não consegui dizer mais nada. Só sai correndo e fui atrás desse tal baralho.
Dali para frente, a vida se reestruturou de forma inacreditável. O corpo, que antes ansiava pela perfeição do ballet clássico, traiu-me com um trauma no joelho – uma dor que carrego e trato até hoje, forçando um adeus aos palcos. O destino, ao fechar a cortina da dança, abria o portal de uma vida nova, que vinha pelo Tarot.
Agora toda a loucura começava a fazer algum sentido.
Eu me tornei uma leitora intuitiva, sempre lendo sem precisar de guias. Aquele conhecimento prévio, herdado do imaginário, bastava. O universo da leitura se bastava na imagem. Anos depois, alguém me presenteou com um livro sobre o Tarot. A leitura fez algum sentido, mas havia uma carência, um vazio. O texto parecia engessar o que para mim era fluido.
Compreendi que a minha visão era outra: cada carta não era uma carta; era um livro separado, uma iniciação e um conhecimento que não tem fim. Não era um manual de adivinhação, fatalidades e que quando sai isso acontece aquilo.
Sim, é claro que a boca de um aconselhador tem poderes que muitos nem imaginam, e o que ele fala ao seu consulente ele ajuda a construir e a acontecer. Eis o perigo minhas queridas e meus queridos leitores!
O meu caminho era o de desvendar a jornada humana, carta por carta, sem nunca me limitar ao que estava escrito nos manuais e às “receitas de bolo” que caíam em minhas mãos. E claro, com as figuras mágicas, era fácil fazer o “pior” acontecer.
Foi assim que obtive o meu “Doutorado”, na minha formação na matéria mais importante das THICs – Observador X corpo de dor. Somos ainda muito pequenininhos. Estamos caminhando, mas na maior parte sua “mente fértil” aliada e suas “emoções negativas”, como o medo, fazem a coisa toda acontecer.
Aquele baralho proibido da infância era, afinal, a chave para uma biblioteca de sabedoria infinita.
Não há fim e nem começo para o tarot
Se você já recebeu o chamado comece no seu tempo.
Na maior parte das vezes é uma ferramenta de aconselhamento. Nas terapias THICs – holísticas, integrativas e complementares é potente por reunir reflexão com escutoterapia. Pode ser uma excelente ferramenta de diagnose da alma. Pode ser ainda uma ferramenta repleta de vibração e emanações para equilibrar o mais materialista dos humanos. Mas é, sobretudo, uma ferramenta de observação do nosso agora e a liberdade que temos de escolher tudo o que estamos vivendo. E, mais ainda, a proteção que recebemos para não aceitar o destino.
E sim, escolhas que podem ser supervisionadas pelos Terapeutas THICs. Escolhas que dependem de crescimento interno, de transformação, de travessia de portais, o que melhor temos a oferecer aos nossos assistidos.
E qualquer que seja o caminho escolhido ele pode ser aproveitado para o melhor. Principalmente quando a gente sai daquela infantilidade de querer prever futuros para os outros.
Mas ainda tenho mais histórias para contar
O tesouro numa esquina
A matriz secreta do Tarot
Apesar da minha intimidade inata com os Arcanos, eu carregava um ponto cego, uma lacuna de conhecimento que a intuição, sozinha, não preenchia: a estrutura matemática subjacente ao Tarot. A adivinhação nunca foi meu foco, mas sim a busca pela matriz, pelo código que organizava o universo imerso nesta localidade que habitamos em 78 cartas. Essa busca me levou à segunda pessoa fundamental na minha jornada: Sonia Weill.
Foi numa esquina movimentada no centro de Londrina, Sonia e eu num final de tarde, Sol ofuscando a conversa animada, naquele encontro sem combinação, eu lanço a pergunta que martelava em minha mente: "Sonia, qual a raiz da numerologia no tarot?”.
Tenho que dizer que Sonia Weill, hoje numeróloga de destaque e “Pé Vermelho”, é carioca e chegou em Londrina pela UEL ministrando aulas no curso de comunicação em 1977. Com especial interesse em Comunicação Interpessoal e Não Verbal e o Imaginário Social dos grupos; paralelamente estudava a Numerologia junto com o Tarot, considerando-os como “Códigos Cósmicos” que oferecem uma compreensão profunda sobre o ser humano.
Sonia me olhou profundamente, com a intensidade que só os grandes mestres têm. Não houve hesitação, nem discurso teórico. Ela sacou seu bloco grande de numeróloga e sua caneta futura – que deslizava macia no papel – e, ali mesmo, em pé, no burburinho do final da tarde, desenhou um diagrama. Aula de mestra!
Foi um instante de epifania total. Aquele desenho não era apenas um gráfico; era a revelação da estrutura que ligava os números aos ciclos da vida e aos naipes. A geometria sagrada do Tarot se abriu diante dos meus olhos. Eu entendi tudo – de forma instantânea e perfeitamente integrada.
O que eu havia captado intuitivamente por anos ganhou, naquele momento, um esqueleto lógico e matemático. Aquele tesouro, que a criança dos anos 60 tanto procurava, era a chave: o Tarot era a perfeita união entre a Intuição (o Imaginado) e a Estrutura (o Entendido).
O código da alma e a chave da iniciação
A busca pela estrutura do Tarot, que Sonia Weill havia acendido na esquina de Londrina, foi consolidada por mais dois encontros totalmente do acaso. Sabe-se que o conhecimento verdadeiro encontra você onde você estiver.
Anos mais tarde, uma jornalista hospedada em casa viu meu baralho sobre a mesa. "Você entende o que é isso? Um livro de códigos?", ela me perguntou. Em poucos minutos, com uma destreza surpreendente, ela alinhou as cartas, não apenas repetindo a matriz numérica que eu havia entendido com Sonia, mas adicionando a profundidade das correspondências e da estrutura cruzada carta com carta. A lógica por trás do sistema ganhou novas dimensões, e o quebra-cabeça começou a se fechar.
Um judeu paulistano “aluga” o meu banheiro na praia da Armação
O ápice dessa aprendizagem inesperada ocorreu em Armação do Pântano do Sul, onde fazia comidinhas para entregar nos quiosques, alugava casas para os turistas e também lia Tarot para sustentar meus filhos. Em um tempo em que deixávamos nossas portas de rua escancaradas, um senhor de cabelos brancos e sotaque paulistano inconfundível com aquela pegada de origem judaica, pediu emprestado o meu banheiro. Após o banho e o agradecimento respeitoso, ele viu o baralho. "Esse é um Tarot? É seu? Você lê?" Acenei que sim.
Ele pediu permissão e sentou-se à mesa e me revelou um sistema que foi a grande bomba do meu aprendizado. Não era apenas um método de tiragem, mas uma forma de olhar para a carta que revelava um conhecimento de "outro lugar". Ao se despedir, ele me garantiu que aquela chave que eu havia acabado de receber cresceria continuamente, "pelo resto da vida, sempre que eu pegasse embaralhasse as cartas".
Sem fim e sem começo a cobra morde o rabo: Ouroboros
Daí para frente, eu comecei, de fato, a desvendar o Tarot. Este ano, a perda profunda do meu marido amado — o baque do luto e da transformação — trouxe mais compreensão em meu trabalho, especialmente nos Arcanos Pessoais, que hoje são a espinha dorsal da minha Mentoria Anual. Desde 2022 eu conduzo a Jornada/Oficina Para Entender o Tarot.
Se você sabe contar até 22, você pode iniciar a sua Jornada Para Entender o Tarot. Esqueça a memorização e os métodos engessados de adivinhação. A verdadeira sabedoria dos Arcanos Maiores é um código que se desvenda pela Intuição, Imagem e Estrutura – o mesmo caminho que me foi revelado em encontros improváveis ao longo da vida. Existe uma forma de ler o Tarot que é estranhamente mágica: ela só está esperando para ser ativada e acontece em um espaço de pura verdade, entre você, o seu consulente e o baralho. Você não começa, você apenas sabe e sente o outro. É um conhecimento para nos ajudar a melhorar nossa conduta aqui. Para descobrir a matriz perfeita que liga o Louco ao Mago e começar a ver cada carta não como um presságio, mas como a chave para uma iniciação profunda.
“Decifra-me ou eu te devoro”, anuncia a esfínge sagrada, com o rosto humano da espiritualidade construída por atitudes e reações aos eventos devastadores que todos nós somos convidados a transpor nessa vida local, e o corpo de animal, que sem trabalho interior é simplesmente um corpo que que vira poeira.
Venha!
Maria Ábramo




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