O eterno retorno
- 17 de out.
- 3 min de leitura
Sua vida merece ser vivida eternamente?

Escrito e publicado por José Octávio Abramo
O estudo da filosofia e de seus maiores nomes é fascinante pela absoluta falta de consenso. Ou melhor, pelo consenso de que não há consenso algum. Kant — se não o mais importante na filosofia ocidental, certamente o mais complexo — inicia sua obra mais famosa, a “Crítica da Razão Pura”, justamente com a noção de que os filósofos, como em um ringue, se digladiam e não chegam a lugar algum. Portanto, a filosofia não pode ser uma medida exata para mim, você ou qualquer pessoa. Como em um mercado, a gente escolhe as coisas que gosta, que estão mais bonitas, etc. Escolhemos as ideias de um filósofo que para nós fazem sentido, sem, necessariamente, ter que comprar todas as outras. E tudo bem!
Friedrich Nietzsche (1844-1900), vem com essa ideia do eterno retorno, a princípio paradoxal para um pensador absolutamente vitalista, realista, como ele. Se para Nietzsche Deus está morto, se todas as religiões e sistemas políticos com qualquer “ismo”: cristianismo, socialismo, capitalismo, islamismo e bote quantos “ismos” você lembrar, são como prisões aos seres humanos para não viverem o presente, a realidade, mas um futuro abençoado ou um paraíso eterno com leite e mel ou um paraíso materialista do proletariado na Terra; como, então, essa pessoa me vem com a ideia de uma eternidade retornando sempre? Aí que está. O eterno retorno é aquele momento que você não quer que acabe, que gostaria que ele se eternizasse. Sabe uma tarde gostosa e preguiçosa na praia? Um encontro com amigos que você ama, ouvindo música, rindo e tomando uns gorós? Um almoço gostoso em família? Um livro que você não quer que acabe? Então, são momentos que a gente quer eternizar e, como isso é impossível, pelo menos repetir o máximo de vezes. O problema é que até aqui está fácil o eterno retorno. Mas esse alemão complica um pouco mais. “Se um demônio aparecesse e lhe dissesse que você viverá eternamente a mesma vida, do início ao fim, exatamente igual, dia a dia, momento a momento, como você se sentiria?” Se você ficar apavorada ou apavorado com a pergunta de Nietzsche, sua vida é, em bom alemão, uma merda. Mas, se você pensar um pouco, olhar pra cima e falar “Tá legal, acho que dá pra levar de boas”, então você vive uma vida que merece ser vivida... e repetida. E isso é o eterno retorno.
Claro que isso não é fácil, porém é necessário! Sua vida é exatamente este momento em que você está lendo. O passado passou, o futuro a gente idealiza; a vida, de verdade, é o momento presente. Siga a sua verdade, não a dos outros, é isso que o bigodudo queria dizer. Decida a sua vida e não volte atrás. Nem pra tomar impulso. O livro mais famoso de Nietzsche é “Assim Falou Zaratustra”, de 1883, e nele há a também famosa frase: “Se te apetece esforçar, esforça-te; se te apetece repousar, repousa; se te apetece fugir, fuja; se te apetece resistir, resista; mas saiba bem o que te apetece, e não recue ante nenhum pretexto, porque o universo se organizará para te dissuadir”. E a gente sabe muito bem como o universo pode ser brincalhão. Nietzsche que o diga, morreu louco. Tente ser mais leve, afinal a gente não vai sair vivo deste mundo. Portanto, siga seus instintos e viva como se você tivesse que viver pra sempre a mesma vida. E, o mais importante de tudo, seja feliz.
José Octávio Abramo




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