Inclusão e exclusão
- 7 de nov.
- 4 min de leitura
O que os sistemas nos ensinam sobre pertencimento

Por Maria Ábramo Editado e publicado por José Octávio Abramo
Se você trabalha ou se interessa por terapias integrativas, holísticas e complementares, sabe que a visão sistêmica é um pilar fundamental para compreendermos a saúde e o bem-estar de forma integral. Não somos ilhas; somos partes interconectadas de sistemas maiores, sejam eles nossa família, nosso trabalho ou a sociedade.
Hoje, vamos mergulhar no significado mais profundo de inclusão e exclusão dentro desse contexto sistêmico e entender como esses movimentos impactam diretamente a nossa vida e o nosso sucesso.
A base do pensamento sistêmico: campos de conexão
Para começar, é fundamental citar o biólogo britânico Rupert Sheldrake, um precursor do pensamento sistêmico, e fazendo isso, eu o incluo aqui para permanecer no equilíbrio. Sheldrake propôs a existência dos campos morfogenéticos (ou campos mórficos) – campos de informação não materiais que conectam e influenciam sistemas semelhantes. Esses campos funcionam como uma espécie de memória coletiva, onde experiências e padrões passados de um grupo (seja uma família, uma espécie ou uma comunidade) são armazenados e podem ser acessados ou ressoados pelas gerações ou membros atuais.
Essa ideia nos ajuda a entender por que, muitas vezes, repetimos padrões de comportamento ou carregamos "fardos" que não parecem ser nossos: estamos, inconscientemente, em ressonância com o campo do nosso sistema.
As leis sistêmicas (as ordens do amor)
Dentro da aplicação terapêutica desse olhar, como nas constelações sistêmicas e familiares de Bert Hellinger, observamos que os sistemas humanos são regidos por leis naturais que ele chamou de “Ordens do amor” (ou leis sistêmicas). A harmonia de um sistema depende do respeito a essas leis, sendo a primeira e mais crucial para nosso tema:
Lei do pertencimento: todo e qualquer membro que pertence a um sistema tem o mesmo e inalienável direito de pertencer. Ninguém pode ser excluído.
A quebra desta lei, a exclusão, é a principal causa de desequilíbrio e sofrimento nos sistemas.
Exclusão: quando o sistema pede reparação
A exclusão ocorre quando um membro ou um fato importante é negado, julgado, esquecido ou relegado a um lugar de não-existência no coração ou na memória do grupo. Exemplos disso vão do pessoal ao social:
No âmbito familiar:
Excluir um irmão por ter um comportamento "inconveniente" ou uma orientação de vida não aceita pela família.
Não dar o devido lugar aos ex-parceiros dos pais ou aos filhos que não nasceram (abortos, natimortos).
Não reconhecer ou julgar um antepassado que cometeu algo visto como "mau" (crime, falência, etc.).
No âmbito social o contexto é amplo):
Excluir pessoas ou grupos devido à sua classe social, etnia, gênero, religião ou qualquer outra diferença.
Negar a história ou a contribuição de grupos marginalizados.
O Efeito da Exclusão
Quando um membro é excluído, o sistema tenta, inconscientemente, compensar essa injustiça. É como se a "energia" desse excluído ficasse presa e, para restabelecer a ordem da inclusão, um membro posterior – muitas vezes um filho ou neto – passa a representá-lo.
O desequilíbrio
A pessoa que representa o excluído pode manifestar doenças, dificuldades financeiras, padrões de comportamento destrutivos, ou ter o destino daquele que foi negado. É uma lealdade invisível na tentativa de "trazer de volta" o que foi excluído.
Inclusão: a chave para a força e a paz
A inclusão não significa concordar, apoiar ou gostar do que o outro fez ou é. A inclusão é um movimento de alma que reconhece um fato existencial:
"Você é, e por ter existido (ou pertencer), você tem o seu lugar. E eu te dou esse lugar no meu coração".
A inclusão é o antídoto para a exclusão. Quando a pessoa que sofre as consequências da exclusão (ou o sistema como um todo) faz esse movimento interno de reverência e reconhecimento a todos que pertencem, o desequilíbrio se esvai.
A diferença para a sua vida: o custo de excluir x a força de incluir
Exclusão: gera peso, repetição de padrões e julgamento constante. Pode se manifestar em vícios destrutivos (como uma fuga inconsciente), doenças crônicas (carregando o fardo de um excluído), sensação de não pertencimento e conflito. A exclusão também está ligada a perdas financeiras sucessivas e padrões de derrotas que se repetem no sistema.
Inclusão: traz leveza e aceitação do que é. Permite que cada um ocupe seu lugar de força e propósito, gerando paz e clareza nas decisões. Com a inclusão, a energia da vida flui sem emaranhamentos, abrindo caminho para a prosperidade e o sucesso com a sua própria força.
Seu próximo passo: da consciência à plenitude
Você acaba de mergulhar em um tema profundo, tocando na essência das leis que regem a vida e o amor em seus sistemas.
Se ao ler sobre as consequências da exclusão – manifestadas em vícios, doenças recorrentes ou perdas financeiras – você sentiu um peso, uma ressonância ou a dor de uma lealdade invisível, isso não é um peso a mais; é um sinal. É a sabedoria do seu sistema vindo à tona. O sistema está, finalmente, pedindo para que você olhe para a sua história com reverência.
"Uma pessoa está em paz, quando todas as pessoas que pertencem à sua família têm um lugar em seu coração." - Bert Hellinger
A exclusão é o NÃO que aprisiona. A inclusão é o SIM que liberta.
A inclusão, no sentido sistêmico, é a capacidade de assentir para tudo que é e como foi, dando a cada um (seja um irmão julgado, um antepassado esquecido ou uma classe social marginalizada) o seu lugar de dignidade. É nesse movimento de coração que você, finalmente, encontra o seu lugar de força e permite que a energia da vida flua sem emaranhamentos.
Se você identificou esse chamado à inclusão, o convite é para buscar o apoio de um terapeuta sistêmico ou constelador qualificado.
Não para culpar ou consertar o passado, mas para olhar para o seu sistema com a coragem e o respeito necessários.
Permita-se dar e receber a força que vem da totalidade do seu sistema. A paz começa quando todos fazem parte.
Maria Ábramo




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